sábado, 6 de fevereiro de 2016

O desconfortável, por favor!


É sábado e eu tive que acordar cedo para pegar dois ônibus e atravessar a cidade e servir numa congregação limpando o chão. Depois, tivemos uma reunião informal. Confesso que, quando acordei às 7h40 da manhã e pensei nessa lista de coisas que eu iria fazer para começar o meu dia de folga, não fiquei muito animada para levantar, mas o dever nos chama e a gente obedece. No entanto, não me passou pela cabeça o quanto eu sairia encorajada daquele tempo e daquela reunião. Conheci pessoas que estão buscando viver a igreja e o reino mesmo quando não é fácil fazê-lo. Inspirador! 
Eles me falaram sobre como as pessoas daquela área, ao longo dos anos, desenvolveram uma cultura de depender dos benefícios do governo, o que os levou a parar de trabalhar e consequentemente a valorizar menos o ir à escola e o receber uma educação formal. Muitos deles desenvolveram problemas de saúde mental, e me pergunto se, se eles conseguissem ver novamente como o trabalho dignifica o homem e como o crescimento intelectual nos faz amadurecer como pessoa, eles voltariam atrás em seus conceitos e teriam a chance de viver uma vida melhor e mais produtiva. 
Depois disso, fui pegar o ônibus para ir para o centro da cidade, e esperava pegar um ônibus vazio, onde pudesse me sentar e mecanicamente mexer em meu celular como a gente faz. Mas, para minha supresa, o ônibus estava cheio e tive que ficar em pé perto de um carrinho de neném. Amo crianças então logo rolou uma conversinha com o neném e sua mamãe. Foi um momento curto mas super agradável, daqueles que fazem seu coração sorrir tranquilo e despreocupado. Mas se o ônibus não estivesse cheio ele provavelmente nunca teria acontecido. 
Então cheguei ao centro e me vi caminhando pela rua com minha mochila pesadinha. Saí de manhã preparada para passar o dia fora e, na minha tentativa de estar preparada para tudo que pudesse acontecer durante o dia, acabei colocando mais coisas na mochila do que realmente vou precisar, ou seja, excesso de bagagem. 
Tenho mania disso; só quero fazer as coisas quando estou pelo menos me sentindo o mais preparada possível, quando pensei nas possíveis coisas que podem dar errado e em como eu vou resolvê-las. Isso por um lado é muito bom e já me livrei de situações embaraçosas, bem como ajudei outros nelas, só por ser prevenida. Mas olhando para trás também vejo o quanto eu perdi, quantas oportunidades de me divertir e de ajudar outros eu perdi simplesmente por ser tão metódica. 
Por isso hoje procuro arriscar mais, me colocar voluntariamente em situações desconfortáveis, porque num simples dia é possível ver como elas são também imprevisíveis e como nos fazem mais bem do que mal. Percebi que, até para escrever, sou bem menos produtiva quando estou em casa, no conforto, onde há poucos desafios e onde a ordem das coisas é pouco alterada. Mas quando estou fora as palavras parecem sempre voar numa ordem bagunçada na minha cabeça e mesmo assim tudo parece fazer sentido. 
Uma vez eu li em algum lugar (desculpa pela falta de referência) que: "Nossas escolhas de hoje determinam quem nós seremos amanhã". E isso é tão verdade em todos aspectos da vida! Vemos como a escolha desconfortável de estudar quando criança e adolescente nos permitiu prosseguir com os estudos e nos formar, o que no geral nos dá a oportunidade de entrar no mercado de trabalho. A escolha, muitas vezes desconfortável, de ir para o trabalho todos os dias gera em nós um senso de dignidade e propósito como nada mais poderia (ou pelo menos é assim que deveria ser). A escolha um tanto desconfortável de perdoar e continuar amando seu familiares e amigos quando eles falham com você possibilitará relacionamentos profundos e saudáveis - essenciais para a vida. A escolha extremamente desconfortável de negar a si mesmo, carregar a sua cruz e seguir a Jesus parece uma oferta louca e absurda num mundo onde a prioridade é fazer sempre a nossa própria vontade. No entanto, essa escolha de viver para o Rei que tanto nos amou que nos criou à sua imagem e semelhança (como os filhos são com relação a seus pais) tem uma recompensa eterna maior e mais satisfatória do que qualquer coisa que possamos experimentar durante nossa passageira vida nesta terra.
Assim, seja nas pequenas situações do dia a dia ou nas grandes decisões da vida, tenho visto que vale a pena escolher o caminho menos confortável.